Vida de safado

Vida de safado que é vida boa. A vida do tímido e reprimido é dura e difícil. A safadeza, a sacanagem, a putaria, a mundanice, estão sempre acontecendo. Um olhar, um sorriso, um toque, uma sugestão, uma palavra. Nas academias de musculação.

Nas zonas de prostituição.

Nos serviços públicos e privados.

No banco da praça.

Na fila do caixa de supermercado.

Na fila do banco.

Na fila da padaria.

Dentro da tabacaria.

Na fila do posto de saúde.

No ponto de ônibus.

Dentro do ônibus.

Dentro do carro.

Dentro do táxi compartilhado.

Nos lares.

Nos bares.

Nas praças.

Nos condomínios de luxo.

Nas vielas de favela.

Por toda a República Federativa do Bananal. No Feirão do Bacanal.

Dentro do Banheirão.

Na casa da vizinha.

Na rua da casa do primo.

Na casa abandonada.

Atrás da pista.

Atrás da moita.

No estacionamento do shopping. Na escada rolante.

No elevador.

No terreno baldio.

Ao ar livre.

No meio da BR.

Na sauna.

No clube.

Nas cabines.

No cinema.

Na praia de Ipanema.

Nos apps de paquera.

Na avenida Anhanguera.

No hotel.

No motel.

No bordél.

Em cima da laje.

Na latrina.

Banho de piscina.

Vida de safado é vida sensual, prazerosa e perigosa.

Apesar de o contexto sociocultural patriarcal-machista privilegiar o arquétipo de Don Juan, o número de homens safados e mulheres safadas é relativamente equilibrado. Aliás, mulheres safadas foram fundamentais na construção do personagem lendário Don Juan, o cavaleiro medieval apaixonado, escravo de seu amor por todas as mulheres do mundo, e que representa, para a mulheres (entediadas com a monótona rotina e oprimidas pela pressão das expectativas sociais), a fantasia do sexo pelo sexo, da empolgante, divertida e prazerosa aventura sexual sem compromisso.

Para os homens, Don Juan também representa o idealizado sonho erótico da promiscuidade e do flerte com o perigo, quando se relacionam com mulheres casadas.

Outro arquétipo poderoso relacionado ao universo das safadezas é a sereia (oriunda da mitologia grego-romana), que dá total poder às mulheres que dele fazem uso. A sereia, com seu corpo irresistível e sua voz hipnótica, seduz os barqueiros e os faz se atirarem ao mar, para morrerem afogados. Poderosas e extremamente femininas e sensuais, no limite da caricatura, as sereias representam, aos homens, puro prazer, e perigo.

Flertando com todas as orientações sexuais e identidades de gênero possíveis e imagináveis, a safadeza não tem gênero definido, pendendo para uma bissexualidade universal, e remetendo-nos ao arquétipo da androginia fluida, que causa medo (e ao mesmo tempo, fascínio) nos basilares do conservadorismo social, que é majoritariamente heteronormativo.

O olhar do safado sinaliza aquilo que ele traz na cabeça, em seus pensamentos. É um olhar vivo, penetrante, hipnótico, atraente.

Os olhos do safado brilham, refletindo as chamas do fogaréu do inferno, por isso são olhos tão sedutores para quem os vê.

A safadeza passa a ideia de coisa de baixa qualidade, de baixo valor.

Pessoas safadas são pessoas que valem menos que 1 dólar. Não valem nem 1 real.

Ainda assim, em um mundo mundano e secular, virado de ponta cabeça e pernas para o ar, a safadeza tem um alto valor, e é altamente valorizada por aqueles que se sentem atraídos por seus encantos.


Vida de safado was written by Fládson B. M. Freitas, and published in FLADSON.COM .

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